O autocarro 750
- A Vida em Crónicas
- 4 de jan. de 2017
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A história de vida da Antónia, que apanha o autocarro da Carris com o número 750, com o percurso Estação do Oriente - Algés e vice-versa.
A Antónia chega à paragem, sempre com alguma pressa para apanhar o autocarro, que a leva ao trabalho. Não convém haver atrasos, mas há. Senta-se calmamente na paragem, enquanto, um pouco nervosa, vai abanando a perna que se encontra traçada. Vê pessoas a chegar e a ir embora, mas o 750 nunca mais chega. Olha para o relógio vezes sem conta e conta os minutos que ainda pode esperar sem que chegue fora de horas. Vai apreciando a rua e trocando algumas mensagens, curiosamente nota que o 751 passa oito vezes e o seu 750 nem uma.
Quando, ao longe, observa que está a chegar, levanta-se. O autocarro vai-se aproximando e nota que no lugar do 750 diz "reservado". Ups, ainda não é desta.
O autocarro finalmente chega. Enquanto vai entrando ouve as pessoas a reclamar que é sempre a mesma coisa. Gritam com o motorista, que está apenas a fazer o seu trabalho e que não tem qualquer poder sobre o número de autocarros que estão em circulação. Número este que, claramente, é insuficiente para o número de pessoas que, todos os dias, precisam de fazer este percurso a tempo e horas.
Em pé ou sentada, a Antónia faz o caminho e chega ao seu destino.
Passadas algumas vezes com isto a acontecer, a Antónia decide ser esperta e percebeu que se apanhasse o autocarro uma hora e meia antes da hora a que tem compromissos, conseguiria chegar a tempo.
O problema aqui é que nem todos têm a vida da Antónia, que apesar de muito ocupada consegue chegar um pouco mais cedo à paragem, e muitas são as pessoas que continuam a chegar atrasadas ao local onde todos meses recebem um ordenado, que ironicamente, é o ordenado que lhes permite pagar o passe do autocarro. O qual, as deixa chegar sempre atrasadas.

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